23.11.11

Eu acho que tô guardando demais minha energia pra mim. Que de alguma forma eu não estou desempenhando um papel em que me sinto confortável. Que me orgulho em não me sentir mais um pedaço, mas me envergonho de, por vezes, me sentir um predador. Será que a vaca voltou em mim? Meu lado animal e instintivo? Esse lado sempre esteve ai, mais exposto ou mais abafado. Este lado que por muitas vezes recusei que fosse eu, que fosse meu. Esse meu lado também é um lado briguento, e acontece que ele apareceu mais quando eu fumei menos maconha. Quando eu achei que devia agir, eu agi com a palavra. Eu agi mostrando minha opinião, agi mostrando meu lado mais sensível, justamente por ser tão explosivo, enérgico. É quase uma TPM bem forte, estou muito sentimental e muito irritável.
Pensando bem, talvez em grande parte da minha vida eu tenha me incomodado justamente com esses meus dois lados. Meu lado sentimental mostra sua mais temível face: a de coitada. Porque será que isso acontece comigo, porque ninguém me entende, porque ele não me ama. E então de repente há uma mudança de figura e fundo, e eu deixo de ser a corajosa que dá sua opinião e se expõe, para ser uma figura incontrolável que é potencialmente um incômodo para todos que a cercam. Não é mesmo, EU MESMA? Sim. Eu fico feliz, claro, pela habilidade de poder me descrever quase ao ponto da perfeição, assim como fico feliz por conseguir rastrear meus demônios, observar sua temporalidade. Assim posso me dar conta que tudo isso sou eu, e que eu não tenho a mínima idéia de como é que as pessoas se sentem, e no fundo isso não faz a mínima diferença. Eu já sou muito material para me preocupar com outras cargas.
Eu achei uma das coisas mais geniais que já ouvi essa frase "a busca é pela diminuição das determinações inconscientes". Isso é o que eu busco, a diminuição do volume das vozes na minha cabeça. Me sinto uma ex-viciada: o tratamento é pra sempre. A batalha é diária na tentativa de manter minha consciência falando mais alto que meu inconsciente. Porque eu acho que é isso mesmo, sabe. Sinto que se eu treinar meus demônios eles podem ser apenas cachorros no quintal. Existem, fazem barulho. Ao saber que eles estão lá, eu posso lidar com eles. Saber suas demandas. Se eles souberem as minhas também, podemos estabelecer uma relação mais livre, justamente por não ser determinada.
Mas agora tudo está pautado na saudade e na preguiça. Voltei a querer que minhas obrigações cessem e as coisas caiam do céu. Por um tempo. Voltei a me imaginar merecedora de um príncipe. Um amor maior que tudo. Cara é tão engraçado, em muitos casos o amor incondicional é pelos pais. Eu tenho por um homem desconhecido, que acho que vou recuperar dos meus sonhos, mas eu nunca tive ele. Eu não o perdi porque nunca o tive.
Eu ESTIVE com um rapaz sensacional. E agora eu não sei com quem ele está. Queria ser uma mosca só pra ver ele regando as plantas, ou molhando a camisa, pois não se secou direito depois do banho. EU NÃO SEI QUE CARALHO É ESSE DE LIGAÇÃO QUE EU TENHO COM ELE. Meu corpo treme e começa a suar só de pensar naquele rosto. Eu me ajeito na cama pensando que meu travesseiro é seu ombro. E quando eu acordar, eu vou ter babado nele, e ele, ao perceber, me dará um beijo e se enroscará ainda mais em mim. ELE QUEM, CARA PÁLIDA? O travesseiro. É... porque o sujeito em questão parece estar beeem longe.
Por que, Deus? Ó, esse é meu lado sofredor se manifestando. Perguntando à Deus porque me fez assim, tão romântica. Ou seria, tão carente? Ou seria, tão narcísica?